Recentemente uma matéria na imprensa internacional fez relatos sobre uma bactéria encontrada nos EUA, que também já havia sido identificada na China um ano antes, resistente a última opção de antimicrobiano disponível, assustando toda a comunidade médica (leia a matéria aqui http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/superbacteria-pode-dar-inicio-ao-fim-dos-antibioticos). Apesar do fato ter ocorrido em seres humanos, ele também nos preocupa, uma vez que a cada ano que passa mais e mais animais são identificados como portadores de bactérias multiresistentes, as famosas superbactérias. Essas bactérias são assim chamadas justamente porque elas já não são mortas com os antibióticos comumente usados na rotina clínica. Mas todos nós, veterinários e também vocês tutores de cães e gatos, podemos estar contribuindo para o aparecimento cada vez mais frequente dessas bactérias resistentes. De acordo com o médico veterinário Bruno Penna, Phd e professor de bacteriologia da Universidade Federal Fluminense, o uso indiscriminado de antimicrobianos, frequentemente determinado por veterinários sem a prévia realização de testes de suscetibilidade aos antimicrobianos (TSA) ou por proprietários sem a prévia orientação do veterinário responsável, também tem contribuído para o aparecimento de cepas multiresistentes, o que não acontecia nos primeiros anos da introdução desses antimicrobianos na clínica veterinária. Ressalta o Dr. Bruno que “Dado que a transmissão dessas bactérias para seres humanos pode ocorrer por meio de contato direto com animais reservatórios ou a exposição a um ambiente contaminado, o conceito contemporâneo de saúde única ou “One Health” não pode ser esquecido. O aumento e expansão das populações humanas, juntamente com contato cada vez mais intimo com os animais de companhia resultam numa maior oportunidade para interações humano-animal. Neste cenário, os diferentes biomas e ecossistemas permitem uma exposição à diferentes bactérias multirresistentes.”
E como podemos evitar o aparecimento de bactérias multiresistentes? Alguns pequenos procedimentos podem ser seguidos a fim de evitar o aumento da incidência desse tipo de bactéria, não só no nossos pacientes, mas também para saúde pública:
- Não use antibióticos de forma indiscriminada! Seja um remédio de ouvido ou um antibiótico para tratar um problema de pele, ele só deve ser usado quando realmente necessário. A medicação dada sem prescrição médica contribui muito para isso. Sabe aquele remédio de ouvido que você passa uma vez por semana no ouvido do seu animal para evitar que ele tenha otite? Então, em breve nem ele e nem outros antibióticos tratarão um infecção nesse ouvido. Aos poucos esse uso contínuo estará selecionando somente bactérias resistentes para habitarem o conduto auditivo do seu cãozinho. E ainda podem no future causarem infecções em você ou nos outros membros da sua família;
- Quando seu veterinário prescrever um tratamento com antibiótico, não interrompa o tratamento antes do tempo prescrito por ele, pois algumas bactérias morrem mais rápido, outras demoram mais a morrer. Parar muito cedo pode render a falha no tratamento e troca desnecessária de antimicrobiano, estimulando ainda mais a tal seleção das bactérias resistentes;
- Da mesma forma, use sempre a dose correta prescrita pelo seu médico veterinário e siga sempre os horários determinados, sem atrasos e faltas.
- Sempre peça a seu veterinário que faça a cultura e antibiograma, seja de uma lesão de pele ou de uma amostra de urina no caso de uma infecção urinária, mesmo quando se trata do primeiro caso. Prevenir é sempre melhor do que remediar;
- Os veterinários devem sempre que possível usar antibióticos mais simples e deixar os antibióticos potentes para infecções mais graves e, nesses casos, sempre respaldados por uma cultura e TSA. Só o seu veterinário tem condições de avaliar o caso do seu animal.
Dra. Flávia Braz – atendimento de dermatologia e endocrinologia na Vet Care