Quando um tutor chega para uma consulta com seu melhor amigo e dosamos a glicose do seu animalzinho, é comum vir a pergunta: “Mas os cães e gatos tem diabetes?” E eu costumo brincar “Claro, se eles tem pâncreas, eles podem se tornar diabéticos!”. Cães e gatos tem a maioria das doenças que temos, principalmente em se tratando de doenças hormonais, e a Diabetes Mellitus é uma delas.
A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença caracterizada pelo aumento da glicose (glicemia) no sangue. Pode ocorrer devido a defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas. A função principal da insulina é promover a entrada de glicose para as células do organismo de forma que ela possa ser aproveitada para as diversas atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação resulta, portanto, em acúmulo de glicose no sangue, o que chamamos de hiperglicemia.
Como a diabetes em cães é um pouco diferente de diabetes em felinos, vamos falar de cada uma em posts separados. Hoje falaremos um pouco mais sobre a Diabetes em cães.
Nos nossos melhores amigos, a diabetes ocorre, na maioria das vezes, devido a uma doença autoimune, ou seja, o próprio organismo destrói as células pancreáticas, que produzem a insulina, chamadas de células beta. Hoje em dia já sabemos que existe também uma predisposição genética para que isso aconteça. Mas hoje em dia temos visto o aumento dos casos de DM também devido ao uso de corticoides e, principalmente, devido a uma outra doença endócrina chamada de hiperadrenocorticismo (você pode ler mais sobre essa doença clicando aqui). Outra doença que pode levar a DM é a obesidade, mas isso também será assunto para outro post.
Os sinais clínicos da DM incluem: aumento do apetite, aumento da sede e da produção de urina e perda de peso. Além disso, os animais ficam mais prostrados, dormem mais. E, se a doença avançar sem o devido tratamento, os pacientes podem apresentar também vômitos e diarreia. Quando esses sinais aparecem, é porque esse animal está com uma quantidade muito alta e glicose no sangue, que faz com que ele entre num quadro grave chamado cetoacidose diabética (CAD). A CAD é uma complicação séria e requer internação imediata ou o animal pode vir a óbito até mesmo em poucas horas após o diagnóstico.
O tratamento da DM em cães é feito através da aplicação de insulina 2 vezes ao dia e da mudança da dieta para uma alimentação que tenha baixo índice glicêmico (rica em proteínas e fibras). E o aumento do exercício físico também é bem importante no controle da glicemia. Então vamos colocar nossos peludos para caminhar!
A DM é uma doença crônica, ou seja, uma vez doente, ela o acompanhará durante toda a vida. Um cão diabético em casa é motivo de preocupação e é essencial que toda a família participe do cuidado com esse peludo. Afinal, esses cães não podem comer mais petiscos fora de hora, sua alimentação será rigorosa, onde horários e a quantidade de alimentação oferecida serão controlados. Esse paciente terá que tomar injeções diárias e é interessante que mais de uma pessoa na casa saiba aplicá-la. Além disso, sempre contamos com a colaboração da família para eventualmente dosar a glicemia em casa. Mas o amor que temos por esses filhos de 4 patas supera isso tudo e, com muito amor e dedicação, em pouco tempo as famílias se adaptam muito bem a tudo isso.
Tem ou teve um cãozinho diabético em casa? Compartilhe aqui nos comentários, para dar apoio aos tutores que estão enfrentando isso pela primeira vez 😉
Dra. Flávia G. Braz – endocrinologia veterinária.