Já ouviu falar em esporotricose? A doença vem se tornando um problema de saúde pública no Estado do Rio de Janeiro, em razão de ser uma zoonose, e do aumento significativo de casos em seres humanos nos últimos anos.
A esporotricose é uma micose causada, na maior parte dos casos, pela implantação traumática do fungo Sporothrix schenckii na pele. Tanto seres humanos quanto os felinos adquirem a doença através da penetração traumática na pele causada por felpas de madeira, espinhos de plantas e material vegetal contaminado. A infecção através da inalação de estruturas fúngicas (conídios) presente no ambiente é considerada rara. Os felinos acometidos por esse fungo podem transmitir, ao homem e a outros animais, através de mordeduras e arranhaduras, ou ainda pelo contato da pele ou mucosa com as secreções das lesões. Na maioria das vezes a enfermidade evolui como infecção benígna, limitada à pele e ao tecido subcutâneo, mas em raras ocasiões pode se disseminar, acometendo os ossos e órgãos internos.
As formas clínicas de esporotricose são: cutânea, cutâneo – linfática ou disseminada. Em muitos casos, mais de uma forma clínica pode ser observada. Em gatos, a forma cutânea é a mais freqüente e manifesta-se como lesões papulonodulares geralmente localizadas na região de cabeça, na parte distal dos membros ou na base da cauda. As áreas acometidas ulceram (formam feridas) e drenam secreção purulenta, levando à formação de crostas. Extensas áreas de necrose podem desenvolver e evoluir com a exposição de músculos e ossos. A doença pode se disseminar para outras áreas do corpo por auto-inoculação, devido aos hábitos de higiene da espécie felina. E ainda podem manifestar forma disseminada da doença que está associada a sinais sistêmicos de prostração e febre.
Fotos: felino de aproximadamente 1ano, atendido na Vet Care com lesões ulceradas em lábio superior.
A esporotricose deve ser suspeitada quando o felino apresenta lesões de pele ulceradas ou supurativas, especialmente quando as lesões são refratárias ao tratamento com antibióticos. Os animais que tem acesso à rua são facilmente infectados, especialmente aqueles que são portadores de doenças virais, como FIV, FELV e PIF. O diagnóstico definitivo de esporotricose está baseado histórico, exame fisco e no isolamento e identificação do microorganismo. Este pode ser realizado através de exame citopatológico da secreção e do aspirado por agulha fina, no exame histopatológico da pele acometida e na cultura fúngica. Mas, na grande maioria das vezes, numa simples citologia da lesão de pele conseguimos encontrar o fungo e confirmar a doença.
Como a esporotricose é uma doença de alto risco para a saúde pública deve-se tomar medidas preventivas como tratamento e isolamento dos animais doentes até a completa cicatrização das lesões. O tutor de um felino afetado deve ser alertado do potencial infeccioso da doença, sendo orientado quanto a desinfecção das instalações com solução de hipoclorito de sódio instituída durante o tratamento, visando proteger os humanos que mantenham contato com gatos infectados, devido à natureza contagiosa da doença. Além disso, o tutor e o médico veterinário devem sempre usar luvas ao manipular esse animal e lavar as mãos com soluções antisépticas de clorexidine. Caso o humano seja arranhado ou mordido por um felino com suspeita de esporotricose, ele deverá lavar a ferida com bastante sabão e água morna a quente e imediatamente procurar auxílio médico. Outro ponto importante é a castração dos gatos machos que, por circularem pela rua, são mais propensos a brigas que podem causar feridas e acidentalmente inocular o fungo.
Dra. Gabriela Vieira – medicina de felinos Vet care
Dra. Flávia Braz – dermatologia veterinária Vet Care